Os desbastes consistem na remoção de árvores seguindo determinados critérios para favorecer o crescimento das remanescentes
Favorecer o crescimento em diâmetro das árvores remanescentes, diminuir a competição por água, luz e nutrientes e produzir madeira de qualidade de forma rentável são alguns dos benefícios dos desbastes em plantios florestais comerciais que tem como objetivo produzir árvores de grande porte para produção de madeira.
Plantios comerciais costumam adotar espaçamentos ideais que contribuem para o arranque inicial das plantas em altura, contudo, após atingirem determinada idade passam a competir entre si podendo “adoecer, perder volume e prejudicar a qualidade de seus produtos devido à progressiva saturação, escassez de umidade, luz, temperatura, nutrientes, originando diferentes classes de diâmetro” (GARCIA, 2006).
Por isso, em plantios florestais que adotaram espaçamento ideal, devem realizar os desbastes periodicamente para se obter árvores com diâmetros mais elevados, essa característica impacta diretamente na produtividade e lucratividade do negócio florestal.
O desbaste consiste na remoção de algumas árvores para garantir o aumento da produção de madeira das remanescentes que apresentam maior eficiência no processo de fotossíntese e respiração do que as demais. A remoção destes indivíduos “reduz o número de classes, começando nas mais baixas, em benefício das árvores que ficam retidas e compõem as classes maiores” (Fishwick, 1976).
Ao se remover determinadas as árvores, há a disponibilização de mais nutrientes, água e luz que irá acelerar o crescimento em diâmetro das árvores que permaneceram. Porém, deve-se atentar a forma de se escolher quais serão removidas e quais permanecerão, além de qual intensidade será essa remoção.
O conceito de intensidade está ligado a indivíduos do povoamento com base no volume de material extraído comparado ao remanescente, número de indivíduos ou ainda de acordo com as características das árvores. As intensidades podem variar de leve (20%), moderada (35%) ou pesada (50%).
Atualmente, há 4 tipos de desbastes mais comuns em florestas comerciais.
4 tipos de desbastes florestais mais comuns
Antes de nos adentramos em relação ao tipos de desbaste, é de suma importância entender alguns dos conceitos como árvores dominantes, codominantes, subdominantes e dominadas.
De acordo com o manual da Forestry Comission, as árvores dominantes (D) são indivíduos bem desenvolvidos que apresentam copas que atingiram níveis mais elevados de cobertura do solo, recebendo luz diretamente e lateralmente. Elas costumam atingir maiores dimensões do que as árvores médias do povoamento.
Já as árvores codominantes (C) são as que apresentam copas de tamanho médio em relação ao nível geral da floresta e também suportam competição laterais. O que a diferencia da dominante é que elas recebem luz diretamente vinda de cima, mas escassa lateralmente.
Enquanto as árvores intermediárias ou subdominantes (I) ocupam os espaços existentes entre as copas das dominantes e codominantes e, apenas recebem luz direta na extremidade da copa. A copa das subdominantes são menores do que a média geral. As árvores suprimidas ou dominadas (S) quase não recebem luz e suas copas são bem menores do que as apresentadas. E, por fim, as árvores mortas ou que estão a morrer.
Alguns estudos classificam também como árvores de futuro, que são aqueles indivíduos que apresentam maior valor comercial para permanecer até o corte raso da floresta em sistemas de desbastes. A altura mais adequada para selecionar as árvores de futuro varia em função das espécies e da fertilidade do sítio, assim como a idade do povoamento. Com base em estudos desenvolvidos no ramo da silvicultura, o número de árvores de futuro poderá variar entre 50 e 350 por hectare, em função da espécie e a finalidade de produção.
Essa classificação auxilia na escolha das árvores a permanecerem e a serem removidas, facilitando assim a opção do tipo de desbaste que será realizado na floresta.
1) Desbaste por baixo ou ordinário
O critério de seleção do desbastes por baixo recai sobre as árvores que apresentaram crescimento dos dosséis mais baixos, ou seja, são removidas as árvores com copas baixas inferiores às demais. As que foram mantidas se destinarão à cobertura de proteção do solo.
Ou seja, o desbaste por baixo consiste em eliminar a maior parte das árvores da classe dominada e subdominada, que são aquelas cujas as copas se encontram nos níveis inferiores. Após a remoção dessas árvores restam apenas indivíduos da classe dominante e codominante.
Há ainda três intensidades diferentes de desbaste por baixo que são denominadas como leve, moderado ou forte.
A remoção de árvores que estão a morrer, mortas, doentes, dominadas e subdominadas é classificada como intensidade leve. Já a remoção das árvores da intensidade leve mais a remoção gradual das árvores subdominates e dominantes bem conformadas que estiverem muito próximas ou que apresentem copas excessivas, ou ainda defeitos no tronco ou na copa é considerada como intensidade moderada.
Enquanto na intensidade forte são removidas todas as árvores da intensidade leve e moderada mais algumas codominantes mal e bem conformadas que estão muito juntas de dominantes mais bem conformadas, com maior aptidão para permanecer até o corte raso. O objetivo deste desbaste é manter árvores com copas e troncos bem desenvolvidos.
2) Desbaste pelo alto
Nesse método de desbaste são selecionadas as árvores que apresentam maior desenvolvimento do estrato (ou seja, maior altura), mas não demonstram níveis elevados de dossel e nem de crescimento em diâmetro. Dessa forma, é dado lugar a árvores dominantes e/ou codominantes de diâmetros e dossel mais elevado para se manter até o final da rotação.
Cortam-se as árvores do estrato médio a superior do povoamento, com a finalidade de desafogar as dominantes e codominantes que interessa manter até ao final da rotação, isto é, os cortes são efetuados por cima, para abrir o estrato superior, favorecendo as árvores mais promissoras deste estrato. A finalidade deste método de desbaste é permitir que as árvores dos estratos inferiores venham atingir valor comercial.
Vale lembrar que há dois graus de intensidade no desbaste pelo alto, sendo eles leve e forte. Na intensidade leve são removidas todas as árvores mortas, a morrer, inclinadas, doentes ou com copas muito extensas.
Além disso, são retiradas a maior parte das dominantes que apresentam algum defeito ou bem conformadas que estão muito próximas e algumas das árvores codominantes.
Já na intensidade forte, além das árvores cortadas na intensidade leve, são cortadas outras de classe superiores que dificultam o crescimento das copas das árvores com maior aptidão para permanecer até o corte raso da floresta.
3) Desbaste seletivo
Este tipo de desbaste é comumente aplicado em florestas heterogêneas, sendo retiradas as árvores dominantes, codominantes, mortas e doentes do povoamento para estimular as árvores das classes inferiores. Neste método de desbaste são removidas indiscriminadamente as árvores do estrato superior em favor das que possuem menores dimensões.
4) Desbaste sistemático ou mecânico
O desbaste sistemático, também conhecido como desbaste mecânico, é aplicado em florestas que apresentam árvores com desenvolvimento uniforme. Dessa forma, a escolha das árvores é realizada em esquema padrão com base em sua posição no talhão ou povoamento, por exemplo, linhas alternadas, linha inteira de árvores retiradas a cada duas, três ou mais linhas remanescentes.
Ao se remover as árvores de maior estrato, as remanescentes passam a receber mais luz e a competição por nutrientes é reduzida, garantindo assim maior valor comercial para as demais.
Todavia, deve-se primeiramente monitorar periodicamente o desenvolvimento da floresta e calcular a área basal para identificar os melhores momentos de desbastes.
O que é área basal?
A área basal é uma área seccional transversal de árvores, comumente medida à altura do peito (DAP), referindo-se assim a um valor de cobertura, por plantas, de uma determinada área de superfície do solo. Sendo expressa pela relação do metro quadrado por hectare (m²/ha).
Além de ser uma medida ligada diretamente com a produtividade, ela é um bom indicador de nível de competição entre os indivíduos, contribuindo para determinar a idade ótima dos desbastes e corte final, a qual afeta diretamente no crescimento e na produção da floresta. Esses dados também contribuem para o inventário florestal, assim, é possível analisar o desenvolvimento da floresta no todo.
O critério mais utilizado para orientar o desbaste é a medida alcançada pela área basal, como por exemplo, 40 m²/ha, neste caso são desbastados sempre que o povoamento alcançar esta medida, por exemplo. Contudo, existem casos onde o desbaste é orientado quando o diâmetro médio se aproxima de zero.
Mas, afinal, o que a área basal pode afetar na produtividade e crescimento?
Área Basal afeta o crescimento e produção
Como cada sítio permite apenas um determinado valor limite de área basal, reduzindo o número de árvores, a área basal máxima se distribuirá por um número menor de árvores remanescentes que atingirão diâmetros maiores. A estratégia é manter o povoamento crescendo em taxas próximas do máximo incremento corrente anual em área basal, o que pode ser conseguido por meio de desbastes leves e frequentes.
Povoamentos mais jovens respondem melhor a repentina mudanças de condições do sítio causadas pela redução na competição entre as árvores e, consequentemente, ocasionará um aumento no crescimento em volume. Este processo foi chamado por Assmann (1970), de “aceleração do processo natural de crescimento”. Esta aceleração provoca a antecipação do culmínio do incremento corrente em volume.
Para Assmann (1970), um bom indicador dos limites de intensidade de desbaste é a área basal crítica, ou seja, 95% da área basal ótima para o povoamento. Através do uso da área basal crítica é possível atingir o efeito de aceleração do crescimento e ainda, repor o que é retirado pelo desbaste.
Os desbastes, quando realizados em momentos corretos, auxiliam na formação do tronco das árvores e consequentemente impacta na qualidade da madeira. A imagem abaixo demonstra a diferença do crescimento das árvores que estavam dentro de um regime de desbaste e outro que não adotou:
Normalmente se adota plantio com lotação inicial de 1.100 a 1.800 árvores/ha e realização de desbastes ao longo do ciclo em modelos de povoamentos puros de Mogno Africano.
Lembrando que o sistema de desbaste pode ter uma frequência que varia de acordo com o sítio em questão. Cada povoamento possui diferentes taxas de crescimento que deverão ser analisadas por profissional qualificado. Uma consequência é que florestas com maior índice de crescimento, o desbaste ocorrerá precocemente. Já as florestas com menor taxa de crescimento, os desbastes também serão mais tardios.
Por isso, para se ter uma floresta mais rentável deve-se estudar a área, o espaçamento e planejar os desbastes periódicos. Esses fatores farão com que você tenha maior aproveitamento por área disponível.
Os cortes periódicos da floresta farão com que as árvores que apresentaram melhor desenvolvimento tenham mais força para crescer devido a redução na competição por nutrientes, pois normalmente elas possuem maior eficiência no processo de fotossíntese respondendo aos estímulos provocados pela melhoria do ambiente.