Pedro Petry, dono do Atelier Pedro Petry, explica como é trabalhar com a madeira de Mogno Africano dos primeiros desbastes na marcenaria

A madeira de mogno africano na marcenaria ainda é novidade aqui no Brasil. Existem poucos plantios que atingiram a idade de corte raso. Contudo, já é possível criar produtos provenientes das madeiras dos desbastes seletivos. Para entender melhor sobre aspectos dessa espécie entrevistamos Pedro Petry, proprietário do Atelier Pedro Petry.

Petry atua no ramo da marcenaria há 37 anos e se tornou conhecido por introduzir um conceito de utilização de espécies desconhecidas. “Comecei como hobby, eu usava da fazenda da família madeiras de caqui, maçã, pera, ameixa e isso acabava gerando uma curiosidade por parte do mercado”, conta o eco-designer.

Durante sua carreira o artista plástico trabalhou com mais de 300 espécies de madeiras, entre elas nativas e exóticas. “Hoje estamos trabalhando com o brancal do mogno africano, Petry explica que o brancal seriam as árvores provenientes dos desbastes seletivos que ainda não atingiram a maturidade biológica, ou seja, são prematuras, mais porosas e leves das que apresentam o cerne já formado. No caso do mogno africano a formação do cerne se dá a partir do 12º ano de idade.

Os experimentos com o Mogno Africano

“Os experimentos com o mogno africano foram de florestas muito recentes, são de corte seletivo, árvores com defeitos. O mais antigo que já trabalhamos foram estacas com 7 anos de idade da espécie K. ivorensis/grandifoliola e K. senegalensis”. Em florestas com espaçamentos 3 x 2 metros, o desbaste seletivo sobressai em árvores mal formadas, tortas e bifurcadas nos manejos realizados entre os primeiros anos da floresta.

“Como o cerne, que é a parte adulta da tora, ainda não formou, gerando consequentemente uma madeira mais leve. Vamos dizer que o peso específico do mogno africano adulto é entre 600 a 700 kg/m³, com certeza essa madeira é menos densa ainda”, explica Petry. Apesar de ser uma madeira mais leve, não apresenta dificuldade para se trabalhar, “o que se observou é que em alguns casos ela tem um pouco de revezo, assim como o cedro tem em algumas situações, ela tem a madeira um pouco peluda. Isso para o lixamento é um pouco complicado, mas nada que não se resolva” e lembra que “o cerne é o que garante a dureza da madeira e influência no comportamento da madeira”.

Apesar de apresentarem defeitos as toras trabalhadas pelo artista plástico, essa espécie exótica apresenta fuste retilíneo e baixa incidência de galhos, característica que ajuda a obter “uma peça mais homogênea em relação a desenho e cor, para a indústria moveleira ela é melhor”. A presença de nós na madeira não afeta somente a parte estética como também afeta a parte estrutural e a durabilidade do item a ser fabricado. “Por exemplo, uma barra de cama que tenha nó no meio, pode quebrar”, complementa o designer. Por isso, Petry ressalta a importância da poda e desrama e que ela seja bem conduzida para não danificar o tronco e reforça: “quanto mais limpa estiver a tora, melhor aproveitamento e rendimento”.

Para se ter uma ideia, com a parte branca do mogno africano Petry fabricou abajures, canetas, lixeiras, vasos, peças da linha gourmet, cálices e suportes para frios que foram expostos no Workshop de Mogno Africano.

mosaico peças madeira mogno africano marcenaria

Coloração da madeira de Mogno Africano

Em relação a coloração da madeira, Petry explica “mogno brasileiro é um pouco mais avermelhado e o africano é um pouco mais rosado, um pouco mais pálido. Mas ele tem uma qualidade que ele aceita bem o tingimento. Então você pode levar para um tom mais claro e também para um mais castanho do tom de tingimento para atender uma demanda específica”.

Além do cuidado de manutenção da floresta, existem também outros fatores que afetam a qualidade da madeira que sucede ao desbaste: imunização e secagem. Petry comenta que “a madeira estando verde ela favorece o ataque e por ser parte branca, então, precisa imunizar a madeira por meio de imersão e depois disso não permitir que não fique exposto”.

Portanto, logo que após o desbaste, as estacas devem ser recolhidas e imunizadas dentro de 24h a fim de evitar a contaminação de fungos e bactérias. Já a secagem, remoção da água da tora, pode ser feita de duas formas: naturalmente ou em estufa. Contudo, a secagem precisa ser bem estudada, pois as madeiras mais porosas podem apresentar rachaduras ao secarem rapidamente.

Madeira exótica

Sobre a substituição da madeira nativa pela madeira exótica, o eco-designer afirma “o reflorestamento com espécies exóticas é um caminho sem volta”. Atualmente, existe uma limitação de florestas nativas devido à extração predatória e a baixa reposição de florestas para produção de madeira legal ocasionando assim em um déficit no fornecimento de madeira para o mercado, ocasionando o apagão florestal. “Em um determinado momento vamos parar de trabalhar com madeira nativa e essas florestas serão destinadas para fazer o equilíbrio do clima e ambiental”, complementa.

Petry também explica que estamos na quarta geração (4.0) “que seria a indústria limpa, fazendo um paralelo com esse nome, nós estamos começando a usar e a desenvolver processos com espécies exóticas e nobres. Inicialmente o eucalipto foi introduzido no Brasil como energético, para tocar os trens. Depois com a tecnologia migrou para celulose. Essa tecnologia era focada em coníferas (pinheiros) porque essa indústria veio dos escandinavos: Islândia e Suécia que são os países que detinham tecnologia da celulose, por isso que elas começaram se instalando no sul, onde nós tínhamos as florestas de coníferas. Como o tempo de reposição da floresta de pinheiro e de araucária era de 80 anos, então, introduziram o pinus que tinha um crescimento fantástico e na sequência entrou o eucalipto, que já tinha plantios para produção de energéticos, passaram para a produção de celulose. Agora nessa 4.0, que para mim seria o novo estágio do desenvolvimento da indústria moveleira, é a gente usar uma espécie nobre e acredito que o mogno africano se enquadra muito nesse conceito”.

Logo, o reflorestamento de mogno africano é uma alternativa de produção legal de madeira nobre para atender a demanda de forma sustentável. As florestas exóticas plantadas removem a pressão de florestas nativas, uma vez que há uma nova opção de madeira no mercado, e assim podem auxiliar na preservação ambiental. Também é possível notar que mesmo a parte branca do mogno africano é possível confeccionar produtos e obter retorno financeiro.

Vale lembrar que as atividades de manutenção e pós colheita são essenciais para obter madeira de homogênea e retilínea. Aproveite para saber neste artigo como imunizar a madeira na primeira colheita florestal.

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